segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Volta.

Umas mãos fortes e uns dedos ósseos a agarrarem-me com força, uma língua a calar-me de uma vez e a tentar arrancar-te de mim, uma respiração sem fôlego a tentar tirar-me o coração e nada: sinto-me ainda mais vazia quando abro os olhos e percebo que não és tu. Aqueles cheiros perto de mim acabam com todas as minhas hipóteses: nenhum é o teu cheiro, em nenhum deles existe o teu cheiro ou o teu dançar de língua perfeitamente coordenado, em nenhumas daquelas mãos fortes eu sinto a alma fugir-me do corpo, em nenhuns daqueles olhos eu me perco como perdia nos teus e nenhum deles te consegue arrancar de mim, nenhum deles aprendeu a expirar vida para dentro do meu corpo como tu, e nenhum deles tem o dom de me fazer sentir viva apenas pelo simples facto de existir. Eu quero matar-te, quero acabar com toda esta dor que me provocas, mas de todas as vezes que agarro na merda de uns phones para ouvir música eles cantam todos para ti, eles cantam todos a tua triste existência escolha eu que música escolher, de cada vez que leio um livro ou vejo o caralho de um filme a história é tua, de cada vez que passo na rua e os meus olhos se encontram com os de um filho da puta qualquer é a ti que eu vejo, em todo o lado vá eu para onde for, e de cada vez que adormeço para poder acabar com tudo tu apareces outra vez, apareces melhor e mais forte do que nunca para me torceres com mais força ainda, para me fazeres esta ferida doer mais e mais e para me desidratares de forma letal.

Eu tentei muito acabar contigo. Eu quis muito matar-te e acabar com este inferno, mas agora… Podes voltar; eu já não sei deixar de esperar por ti.

1 comentário:

R. Branco disse...

Isto está mal. Olha para o céu, ele há-de a aparecer - o sol - e aí terás a carta que tanto mereces.