quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

É Dezembro e (ainda) está a chover.

Tenho cerca de cinco horas até ao esgotamento total dos trinta e um dias que me restavam. Não é que existam resultados, na verdade. Já não é o álcool ou a frustração da exactidão, já não são as merdas em que mergulhei nos últimos tempos, já nem sequer és tu... Eu cresci e percebi que afinal o mundo não é um bom lugar para nos mostrarmos vulneráveis, e em parte devo-o a ti. Eu costumava falar demais e tu nunca me ofereceste uma palavra - sorrias simplesmente, sorrias como ninguém, um sorriso só teu que significava "Tu não me conheces nem um bocadinho, nem vais conhecer", um sorriso que me deixava de rastos, que fazia de ti o objecto da minha obcessão. Ultimamente tenho percebido que talvez nem sejas uma pessoa - destrois tudo aquilo em que tocas, e isso faz-te feliz. Eu cresci depressa, cresci mais nestes cinco meses do que no resto do ano inteiro e a culpa é tua. Mas daqui a umas horas vai estar tudo a beber champagne e a comer uvas passas, daqui a umas horas este foi só mais um ano para esquecer; daqui a umas horas vai deixar de ser Dezembro, e aida que a chuva não pare, eu vou parar. Ainda que o tempo esteja contra mim, eu quero que tu te fodas e que 2009 tenha realmente sido o teu ano, o teu momento. Porque 2010 vai ser o meu.
(by the way, happy new year everyone)

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Emma Johnson.

Gostava de perceber o que fizeste tu naquela tarde de Julho. Os teus olhos transformaram-se e revelaram uma parte de ti que eu não havia conhecido nunca. Entraram com força dentro dos meus e o meu coração agora torcido pelo castanho amêndoa que irradiava de ti dizia-me que aquela não era uma tarde qualquer: era a tua tarde de Julho, a tarde pela qual esperaste devagar para me poderes apanhar.

Afinal quem és tu, Emma Johnson? O teu cabelo louro a acariciar-te as costas, os teus olhos sem fundo como se quisesses descobrir o eu de todos para quem olhas. Os teus vestidos beges a contrastar com a tua pele de mel, as tuas calças apertadas a realçar as tuas pernas esculturais. E a tudo isto se junta o fumo que dança do cigarro aceso nos teus compridos dedos, hora sim, hora não. De onde vens tu, Emma Johnson? Quem és tu?
Levantei-me, já tarde. As noites mal dormidas desde essa tarde de Julho em que te coroaste proprietária de mim obrigam-me a prolongar o sono pela tarde fora. Arranjei-me mais bonita do que nunca, agarrei em meia dúzia de cds que estavam na mesa da cozinha e enfiei-os na carteira, pintei os lábios de vermelho e pus um sopro do meu melhor perfume, soltei o cabelo comprido e trinquei metade de uma maçã. Saí do quarto. Aquele quarto entendia-me. Todos os quartos me entendiam ultimamente, o ar parado, os mesmos lugares e os mesmos cheiros, os teus olhos de amêndoa em todas as paredes. Preciso de sair, devorar a liberdade, aprisiona-la em mim. Emma Johnson, Emma Johnson…
Sento-me na mesa do café, preta como eu estou agora, ouço o dançar das teclas de um piano desconhecido, escorre pelas colunas como a água pela rocha onde nasce. Lembro-me das tuas mãos à volta do meu pescoço, dos teus lábios perto de mim, a darem-me a esperança da tua devoção eterna. Emma Johnson, quem foste tu? Agora que me obrigas a vestir de preto, agora que não te verei nunca mais, quero saber quem és. Exijo saber quem és, agora que as teclas do piano que costumavas tocar para mim já de nada me servem, agora que o café já a nada me sabe. A minha única ajuda reside nos cigarros que respiro na expectativa de trazerem algo de ti escondido no seu fumo, na esperança de que ainda vivas no arder da ponta de um deles e de te poder voltar a ter dentro de mim.
O vapor que se eleva – agora do café já quente – tem tanto de alegórico como a tua aparição em mim. Acordo da pancada, levanta a pálpebra, contrai a pupila, ergue-se o corpo e aqui estou eu. Emma quê…?

To Be Alone With You - Sufjan Stevens (clicar para ouvir)

domingo, 27 de dezembro de 2009

Stay on my side tonight.

Se não demorares demais, posso esperar por ti a vida inteira. A única maneira de me livrar da tentação é ceder-lhe agora. Já não tenho força para te largar.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Volta.

Umas mãos fortes e uns dedos ósseos a agarrarem-me com força, uma língua a calar-me de uma vez e a tentar arrancar-te de mim, uma respiração sem fôlego a tentar tirar-me o coração e nada: sinto-me ainda mais vazia quando abro os olhos e percebo que não és tu. Aqueles cheiros perto de mim acabam com todas as minhas hipóteses: nenhum é o teu cheiro, em nenhum deles existe o teu cheiro ou o teu dançar de língua perfeitamente coordenado, em nenhumas daquelas mãos fortes eu sinto a alma fugir-me do corpo, em nenhuns daqueles olhos eu me perco como perdia nos teus e nenhum deles te consegue arrancar de mim, nenhum deles aprendeu a expirar vida para dentro do meu corpo como tu, e nenhum deles tem o dom de me fazer sentir viva apenas pelo simples facto de existir. Eu quero matar-te, quero acabar com toda esta dor que me provocas, mas de todas as vezes que agarro na merda de uns phones para ouvir música eles cantam todos para ti, eles cantam todos a tua triste existência escolha eu que música escolher, de cada vez que leio um livro ou vejo o caralho de um filme a história é tua, de cada vez que passo na rua e os meus olhos se encontram com os de um filho da puta qualquer é a ti que eu vejo, em todo o lado vá eu para onde for, e de cada vez que adormeço para poder acabar com tudo tu apareces outra vez, apareces melhor e mais forte do que nunca para me torceres com mais força ainda, para me fazeres esta ferida doer mais e mais e para me desidratares de forma letal.

Eu tentei muito acabar contigo. Eu quis muito matar-te e acabar com este inferno, mas agora… Podes voltar; eu já não sei deixar de esperar por ti.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

"The End Of Innocence."

Your tongue in my mouth, trying to keep the words from coming out,
You didn't care to know who else may have been here before.

I want a lover, I don't have to love.

I want a boy who's so drunk he doesn't talk.

(Then my mind went dark: You write such pretty words but life's no storybook)

I want a lover, I don't have to love.

sábado, 12 de dezembro de 2009

A chamada caiu.

Ainda que fosse apenas um reflexo da realidade, ainda que fosse apenas uma reprodução imperfeita e irreal aquilo que ali me chegava aos ouvidos pelos fios eléctricos que faziam a ligação entre o teu telefone e o meu, ainda que não fosse sequer palpável, foi o mais perto que pude estar de ti e do teu corpo, foi o mais verdadeiro e o mais real que tive de ti em tanto tempo. Era a tua voz, a tua e a de mais ninguém, era a tua respiração coordenada e certa, os teus pulmões a encher e a esvaziar do outro lado da linha e todo esse combinar de sons perfeitos a chegarem-me aos ouvidos, só a mim, como se fosses só tu e eu outra vez, tu a entrares dentro de mim outra vez ainda que não o soubesses sequer. A distância que estava agora unida por aquela ligação telefónica deixara de existir ainda que tudo não passasse de um reflexo teu, eu não queria nunca mais pousar o telefone porque se isso acontecesse era o fim de tudo, o relógio ia recomeçar a andar e o meu coração a bater e a doer, - Quem é? – foi o que me chegou de ti em tanto tempo, apenas isto, eu repetia a expressão na minha cabeça uma e outra vez, tentava encontrar uma resposta, o meu cérebro a atrofiar e as minhas mãos a tremer, - Quem é? – eu queria realmente ter uma resposta para ti, ouvia a tua respiração certa do outro lado a pressionar-me com todas as forças, a desfazer-me e a matar a minha alma, suspiraste e a chamada caiu, o telefone caiu, as minhas lágrimas caíram, - Quem é?, eu não sei quem sou, como podia ter uma resposta para ti?

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Picking up the pieces.

"Estou à parte. Não posso ter sorte, nem azar. Não posso tomar conhecimento do que é bom ou do que é mau. Até uma simples sensação da diferença entre prazer e sofrimento me é negada. Todas as coisas são uma só, e tudo faz parte de mim."