quinta-feira, 29 de maio de 2008

Mundo De Pernas Para O Ar.


Carregava naquele botão e as luzes e os sons penetravam-me o campo visual e auditivo, os ruídos e barulhos que vinham daquela caixa magoavam-me e as imagens que transmitia ficavam-me gravadas na mente, como uma cicatriz, como uma passagem de um dia antigo.
O meu lar era quente e aconchegante e fazia chuva lá fora, dentro de casa reinava o silêncio e isso só porque as quatro paredes eram isoladoras de ruído. Abria a porta ou carregava naquele botão e a tortura voltava, o céu chorava com mais força e as suas lágrimas, a chuva, por vezes congelava, e era neve fria, e não tinha nada de bonito nem romântico. Tudo o que diziam era que mais uma faca havia assassinado um inocente, que mais uma família havia ficado sem dinheiro para viver, que mais um milhão de pessoas havia morrido ou que mais uma bala havia perfurado a cabeça de alguém, alguém que eu não sabia quem era, e que me tocava somente na parte visível, que me tocava apenas superficialmente.
Bastava-me o facto de carregar naquele botão ou de abrir a porta à noite para ver, ver que mais um jovem tinha álcool em vez de sangue no organismo, que mais uma faca assassinara um inocente, que mais uma estrela lá em cima deixara de brilhar.
O medo apoderava-se de mim porque sempre fora o meu lar, aquelas quatro paredes isoladoras de ruído que me havia guardado e protegido daquele botão e daquela porta que se abria mais e mais todos os dias.
Uma mistura de dor e revolta, já não sei bem, instalou-se dentro de mim. A inocência, essa desvanecia a cada dia e a cada noite, a cada carregar de botão e cada abrir de porta. Era assim, até porque de outro modo não podia ser. Se ainda a tivesse cá fora, a inocência, a única hipótese que me restava era fugir do Mundo e voltar para casa, voltar para dentro das quatro paredes isoladoras de ruído e adormecer, adormecer e não acordar mais.

P.S. " In this farewell , There no blood , There no alibi " .

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Férias Da Alma.

Os meus olhos nunca mais seguiram outro rumo senão o meu, nunca mais descolaram do meu caminho e hoje, hoje que voltei a casa tinha alguém a olhar na mesma direcção que eu, para o meu caminho, e não olhava do lado de lá, olhava junto a mim, olhava comigo em frente.
Os sorrisos e amores já há muito haviam voltado, a razão de acordar todos os dias já há muito a encontrara, mas nada como hoje, nada com voltar das férias, como voltar a casa e perceber, perceber que de facto havia alguém ainda a olhar para o mesmo caminho que eu, e desta vez não estava do lado de lá, estava junto a mim, a olhar em frente. Eu estava bem, pelo menos parecia-me que assim era, mas hoje que voltei a casa percebi que não, que a única coisa que eu havia estado nos últimos tempos era confortável, aconchegada e mentalizada dos factos e do dia-a-dia.
Mas hoje voltei de férias e as influências daquele lugar mostraram-me a verdade, que de facto eu não estava bem, estava somente aconchegada e mentalizada dos factos e do dia-a-dia. Hoje que voltei a casa senti outra vez um arrepio frio, e estava calor. Senti outra vez uma dor confortável, e uma doença que demonstrava vida. Tinha saudades de me sentir assim, tão insegura, tão simples.
A verdade é que eu voltara a casa das férias da alma, e a verdade era também que viajar pelas constelações da Via Láctea e olhar o Sol e as estrelas cadentes me tinha mostrado que eu não estava bem, e me tinha mostrado também que eu tinha saudades, saudades de me sentir assim, tão insegura, tão simples, tão apaixonada outra vez.

P.S. Train – Drops Of Jupiter

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Longe De Casa .

Entrei de olhos fechados, porque o Sol era quente e tapava parte do meu ângulo de visão. Imaginava ainda aquele lugar cheio de meninos a correr, com o maior sorriso de alegria e outros mais pequenos a chorar caídos no chão, aqueles que cinco minutos depois estavam já a correr novamente. Imaginava os amores e desamores que ali se tinham encontrado e desencontrado, imaginava a chuva que tinha corroído por tantos Invernos aquele chão de alcatrão revestido de chicletes, imaginava o estalar desse mesmo alcatrão por tantos Verões de Sol quente, como aquele dia. Lembrava ainda também as pessoas que tinham dedicado a sua vida àquele lugar, a coser a roupa rasgada dos meninos e a levantá-los do chão quando caíam, lembrava o dono de tudo aquilo com a sua figura pesada e autoritária, lembrava as folhas que naquele chão haviam caído, lembrava aquele som tão aconchegante, lembrava as janelas que ali haviam sido partidas com bolas de futebol inocentes, lembrava as mesas velhas e as cadeiras pobres, lembrava os sorrisos, lembrava as lágrimas, imaginava, lembrava.
Abri então os olhos e vi, tudo o que eu lembrava eram agora somente recordações. O Sol era quente ainda, mas aquele lugar estava deserto. Estavam lá ainda as janelas e o chão de alcatrão corroído e estalado pelos Invernos e Verões, estavam lá as mesas velhas e as cadeiras pobres, mas estava deserto. Faltavam lá os sorrisos e as lágrimas, as pessoas que tinham dedicado toda a sua vida àquele lugar, o dono de tudo aquilo e a sua figura pesada e autoritária, faltavam lá os amores e desamores e as folhas caídas no chão. Então percebi que aquilo que toda a vida pensei ser a minha casa não o era. Aquele lugar não era o chão de alcatrão e as janelas, não era as mesas e as cadeiras, mas as pessoas, os sorrisos, e as lágrimas.

sábado, 10 de maio de 2008

Lágrimas São Promessas Do Que Nunca Encontrei

Na verdade elas não nasciam nos meus olhos, nasciam no meu peito e subiam pelo meu corpo até à sua saída. Escorriam depressa, a dor era demasiada par ser sentida, caíam para a cidade e ninguém reparava, ninguém se lembrava que eu estava ali. A minha mente já não comandava agora os meus movimentos exteriores, só o órgão central o fazia, só ele era dono de tudo. Eu já não era mais aquela montanha erguida, aquela que nunca se inclinaria. A minha pele rasgava-se devido aos cortes dos seixos junto ao rio, a água junto a mim perdia a transparência e ganhava um tom encarnado que se ia fazendo impor e tornando mais vivo. A água que havia sido fresca estava agora quente de dor, o sangue que a tingia era meu e estava repleto de ódio e morte, estava repleto de perda e de agonia. A minha vida fazia sentido ainda, mas aquele momento não, e sempre fui uma pessoa de me guiar pelas emoções momentâneas. A minha vida tinha ainda uma razão mas não era nisso que eu pensava agora, as nossas memórias estavam desvanecidas e hoje estava mais junto ao chão do que a própria terra, hoje a minha queda era visível e a única coisa que o meu corpo produzia eram as lágrimas, as promessas de tudo o que não havia vivido, de tudo o que nunca havia encontrado.



P.S. The tears falling down , Each one a promise of everything , You never found .

domingo, 4 de maio de 2008

Os Sonhos São Somente Para Quem Dorme .

Todas as gargalhadas e palavras das pessoas à minha volta se desbotaram, a pouco e pouco iam-se tornando num eco e por fim, deixei de as ouvir. Os movimentos alegres, o balançar das nuvens e a brisa que me rodeava pararam ali de repente, e deixaram-me sozinha ao teu dispor outra vez. Passaste à minha frente, e juro que mais nada vi que um fantasma. Estás diferente, o teu cabelo está mais farto e pesado, as roupas que trazias eram as mais coloridas que já te vi no corpo, e o sorriso, aquele falso que mostras aos outros estava lá, como sempre, ele estava lá. Parecias o mesmo daquelas fotografias antigas, daquelas fotografias dos tempos em que eu não te conhecia. Na verdade, naquele momento senti-te como nada mais que um estranho a passar na rua, porque os meus olhos não se cruzaram com os teus, pude ver-te somente ao longe como nunca antes o havia feito, como um fantasma.Vi-te como um estranho que havia presenteado os meus sonhos, mas que hoje já nada mais era que um estranho, vi-te de facto como um fantasma porque os meus olhos não se cruzaram com os teus, e porque ali, ao longe, consegui perceber que estavas bem: O sorriso falso estava lá, continuavas um menino perdido por trás do olhar confiante mas isso não te fazia parar, acima de tudo o teu destino era a tua casa, e agora já nada do que eu havia sonhado o iria mudar. Hoje não era um sonho, tu passavas à minha frente e aquele arrepio na espinha percorria-me de igual forma, estavas mais egocêntrico do que nunca, eras tu, o mesmo, o antigo, o original. Os meus sonhos foram levado pelo ar, e o facto de te ver ao longe confirmou-o. As minhas lágrimas já secaram, e o teu caminho está traçado. És o único protagonista dos meus sonhos, e ser-mos agora estranhos matou a história que eu escrevi. Já não faz diferença. Afinal, o sorriso falso estava lá e apesar de me ter provocado o mesmo arrepio na espinha e de ter parado o meu tempo, os nossos olhos não se cruzaram e eu percebi que era verdade, que os sonhos são somente para quem dorme. E há muito que eu havia decidido acordar.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

É Um Blogue Muito Bom Sim Senhora .


Anuncio que o meu blogue foi nomeado para o prémio " É um blog muito bom sim senhora!! ", pelos seguintes blogues:

Regulamento:
1- Este prémio deve ser atribuído aos blogs que gostamos e visitamos regularmente, postando comentários;

2- Ao receber o selo "é um blog muito bom sim senhora!!" devemos escrever um post incluindo: o nome de quem nos deu o prémio com o respectivo link de acesso, mais a tag do prémio, mais a indicação de outros 7 blogs;

3- A tag do prémio deve ser exibida no blog.

Considerados por " Vera Matias " dignos do prémio :