sábado, 31 de outubro de 2009

Creep.

"I don't care if it hurts
I wanna have control
I wanna a perfect body
I wanna a perfect soul
I want you to notice
When I'm not around
You're so very special
I wish I was special
But I'm a creep
I'm a weirdo
What the hell am I doing here?
I don't belong here.

(She's running out again)"

Creep - Radiohead

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Esconde-esconde.

Em nome da liberdade renunciei a quem deveria ser. Já me matei em vida: sou uma suicida de pé. A minha existência consiste numa perpétua fuga à única realidade que era possível. E logo eu, que só precisava do teu peito aberto e dos teus lábios a prometerem-me que tudo ia ficar bem.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sete horas.

Os meus olhos abrem-se devagar e o mundo é preto e branco. O tocar sucessivo do despertador faz com que, instintivamente, eles se esforcem por se abrir completamente, mas tudo o que existe, quando finalmente consigo fazer com que me obedeçam, é uma grande nuvem que distorce tudo à minha volta – o mundo não tem cor nem cheiro, não existem imagens focadas, e tudo é como se uma chuva intemporal me tivesse invadido o quarto e me tivesse submerso a mim e a tudo à minha volta. Debaixo de água também a respiração é desnecessária, e só me lembro de encher os pulmões quando o coração me falha e as mãos me começam a tremer com falta de oxigénio – ultimamente até me esqueço de respirar. Depois, quando finalmente o despertador decide descansar, concentro todas as forças que me restam nas pontas dos dedos e atiro-me de cima da cama para o chão. Uns arranhões nos braços e uma ferida na cabeça – posso despertar agora. Preciso de dor física para despejar a água que me emergiu, preciso que o meu choque com o chão me torça com força os nervos sensoriais para que a nuvem que me cega quando abro os olhos ao primeiro segundo do dia desapareça, para me conseguir lembrar que é preciso respirar para viver e conseguir voltar a encher os pulmões de oxigénio. Preciso de deixar o meu sangue sair para o substituir pela realidade, que me foge durante o sono. Ninguém pode começar um dia sem saber sequer se existe. Ninguém pode começar um dia sem ter a certeza de que não foste um sonho.

domingo, 18 de outubro de 2009

Como é que podemos guardar todas as pessoas importantes cá dentro para sempre? Como é que podemos não esquecer? (…)
Até então, sempre fizera um esforço para que pelo menos uma pequena recordação se mantivesse eterna, mas depressa aprendi que as coisas boas não se guardam: vivem-se no momento e depois, sejam lá elas o que forem, como tudo o resto, esquecem-se.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Febre.


Tu és febre.
Lá em cima, na cidade dos deuses, entre toda a sabedoria e todos os comandos mundanos, talvez exista alguém responsável pelo interruptor do tempo. Se o conhecesse, naquela noite ter-lhe-ia pedido que o congelasse para sempre.
O vento respirava um hálito frio e húmido, um hálito vindo do inferno para desfazer tudo à sua volta, um hálito que não se ia embora e cujo objectivo era subir-nos pelas pernas e pela espinha e chegar-nos ao coração para nos deixar ali sem vida. Enrolava-se-nos no pescoço e tentava sufocar-nos, tentava arrancar-nos a alma, torna-la gelada e morta e leva-la para longe, para onde nunca mais ninguém a pudesse encontrar. O sol já tinha adormecido, as pessoas já se tinham escondido e nada mais no mundo fazia sentido agora. Enquanto o gelo se tentava apoderar do meu corpo, a tua língua desenhava-me os lábios com todos os detalhes, enquanto o frio me tentava matar, os meus dedos enterravam-se com mais força por entre os teus fios de cabelo e tu mantinhas-me viva, enquanto a noite e o escuro tentavam levar-me a alma, o teu coração a explodir e as convulsões das tuas mãos nas minhas costas mantinham-me presa à terra.
Tu és febre - a minha maior alucinação.
E o mundo nunca mais foi o mesmo. Nunca mais vi o dia nem a noite, nunca mais olhei para as estrelas e o meu coração ficou para sempre congelado ali, no lugar onde eu queria ver o tempo parado eternamente, entre as árvores escuras e o rio negro e o frio mortal, onde nós éramos a única forma existente de vida, onde a tua boca expirava ofegante para dentro de mim, onde o teu cheiro me atordoava e me tirava os sentidos, onde tu e eu éramos um único ser e nada mais importava. O sol nunca mais nasceu, eu nunca mais fui eu, e a minha febre nunca mais passou.
Tu és a minha febre.
E eu não me quero curar.

domingo, 4 de outubro de 2009

Sabes, tem piada a forma como as pessoas andam distraídas por aí, tem piada a forma como acham saber tudo das nossas vidas e, na realidade, nenhuma delas faça sequer ideia de que, ao longe, os meus olhos não resistem a perder-se nos teus, e, sem que ninguém repare, o que representas de nada me importe. Sim, na realidade tem piada que, sem que ninguém entenda, tudo o que eu queira sejas tu, e que nada mais no mundo deles faça sentido para além do que não sabem ou daquilo que nunca em sonho algum irão saber: we'll escape, we'll be free.