sábado, 27 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Se a largo, sinto a sua falta - se a agarro ela perde a cor

"Se a amo? Sim, amo. Amo-a e ficarei ligada a ela para sempre, mas é um amor que não cabe na vida, um amor inventado, imaginário... se é que existe ou existiu alguma vez. Amo-a, mas isso não conta, porque vivemos num mundo de paradoxos, em que as coisas que importam não são ainda as que importam, ou não podem ser, e como não podem ser acabam por não importar mesmo - não será assim?"

domingo, 21 de fevereiro de 2010

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"Always Forget How Strange It Is Just To Be Alive It All"

Há uns tempos o frio gritava lá fora e dei com ele a cantarolar qualquer coisa que não percebi o quê, a boca a esboçar um sorriso e os olhos fechados, "Estou-me a cagar", disse-me, e continuou a cantoria, sozinho. Não me pediu cigarros nem dinheiro: estava a cagar-se. Continuei como nunca desaprendi a fazer, tu a apareceres-me, o frio a ganhar força e o dia a apagar a luz para que a noite nos embalasse enfim. Pergunto-me onde estará agora que não tem casaco para se cobrir nem ombro para dormir. "Amiga", é como me chama porque nunca lhe disse o meu nome. "Amigo", é como lhe chamo porque não sei quem ele foi nem para onde quererá ir um dia. E é tudo. Espero que continue a cagar-se. Numa altura agarrou-se a mim a chorar, numa altura em que não estava a cagar-se. Doía-lhe e doía-me. Nessa altura cravou-me uns cigarros. Nunca lerá isto, nunca saberá que falei nele, que dei, um dia por acaso, conta de que existia. Gostava de ir contra ele outra vez, numa qualquer altura, "Amiga", era o que me diria, "Não me arranja uma moedinha, por acaso?", na certeza de que eu a teria no bolso por acaso e lha ia dar por acaso. E de novo a cantoria, o sorriso cravado na cara gasta, "Estou-me a cagar", e eu a cagar também, os dois pela rua fora até ninguém nos ver, a deixar para trás aquela que escrevia, a Vera, a olhar para nós, a entrar no café e a instalar-se de cotovelos na mesa e mãos no queixo, contigo a aparecer outra vez diante de um tampo vazio.

Life Is A Song - Patrick Park (sempre tua.)

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

"Não são só os ratos, aliás, que moram connosco no sótão. Possuímos um jardim zoológico completo de formigas, melgas, traças, centopeias, aranhas, grilos, carunchos, que presumo alimentarem-se da mesma falta de comida do que nós, sem contar as borboletas que se esmagam contra as lâmpadas, no Verão, e se reduzem de imediato a um pozinho escuro de verniz. E há os pombos. E as rolas. E os barcos, como lesmas, no Tejo. E os vizinhos em camisola interior, incapazes de voar, crucificados nos craveiros das varandas. E tu e eu, cada vez mais transparentes e magros, a prepararmos o pequeno almoço de meio grama de heroína da injecção da manhã."

António Lobo Antunes

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Passou tanto tempo.

Alto e de voz forte entra na sala, risca o xisto acinzentado pelo tempo, ouve-se um guincho ardente e tu materializas-te: no fim tudo valeu a pena. Escreve o dia de hoje no quadro - passou tanto tempo. Não fala de nada que me interesse: nada que me aqueça agora que ali estás a congelar-me, nada que faça o relógio balouçar mais depressa agora que ali estás diante dos meus olhos a fazer o tempo doer. “Bom dia”, dirige-me o homem que de lado nenhum conheço, estou num outro lugar, numa outra vida, num outro tempo: num mundo onde só existes tu para eu te adorar. A vida rola diante dos meus olhos ali mesmo e estou adormecida, o João Paulo a berrar comigo, a dizer-me que não vai ser diferente desta vez e a realidade do homem à minha frente a falar de nada que eu saiba o quê, nada que me importe sequer, “Está atenta!” diz-me ele com as rugas a desenharem-se-lhe na testa e a expressão a endurecer, o João Paulo e tu outra vez, a contraporem-se dentro de mim e eu a fugir como sempre fiz. Depois disto vai ser muito mais racional: quando acordar nunca mais voltarei a poder descansar contigo. Com as outras pessoas não vai ser como contigo: o amor não vai ser como o teu nem os ciúmes como os que tive dos anormais que te tentavam por as mãos em cima, as saudades nunca serão tantas como as que tive tuas e vou saber controlar tudo como uma máquina: vou desumanizar-me quando acordar deste sono. “Está atenta!”, acordo e sei que foste a única vez em que valeu realmente a pena. “Não vais acabar bem”, diz-me o professor cansado de me ver a leste da merda que nos tenta enfiar na cabeça, escrevo o dia de hoje na primeira linha do caderno para lhe fazer a vontade - passou tanto tempo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Alice foi voar (...)

The secret marriage vow is never spoken.
The secret marriage can never be broken.