quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Sete horas.

Os meus olhos abrem-se devagar e o mundo é preto e branco. O tocar sucessivo do despertador faz com que, instintivamente, eles se esforcem por se abrir completamente, mas tudo o que existe, quando finalmente consigo fazer com que me obedeçam, é uma grande nuvem que distorce tudo à minha volta – o mundo não tem cor nem cheiro, não existem imagens focadas, e tudo é como se uma chuva intemporal me tivesse invadido o quarto e me tivesse submerso a mim e a tudo à minha volta. Debaixo de água também a respiração é desnecessária, e só me lembro de encher os pulmões quando o coração me falha e as mãos me começam a tremer com falta de oxigénio – ultimamente até me esqueço de respirar. Depois, quando finalmente o despertador decide descansar, concentro todas as forças que me restam nas pontas dos dedos e atiro-me de cima da cama para o chão. Uns arranhões nos braços e uma ferida na cabeça – posso despertar agora. Preciso de dor física para despejar a água que me emergiu, preciso que o meu choque com o chão me torça com força os nervos sensoriais para que a nuvem que me cega quando abro os olhos ao primeiro segundo do dia desapareça, para me conseguir lembrar que é preciso respirar para viver e conseguir voltar a encher os pulmões de oxigénio. Preciso de deixar o meu sangue sair para o substituir pela realidade, que me foge durante o sono. Ninguém pode começar um dia sem saber sequer se existe. Ninguém pode começar um dia sem ter a certeza de que não foste um sonho.

1 comentário:

R. Branco disse...

Depois sou acusado de ser depressivo... Mau maria! vou assumir que isto foi um dia mau para ti x)