sexta-feira, 16 de maio de 2008

Longe De Casa .

Entrei de olhos fechados, porque o Sol era quente e tapava parte do meu ângulo de visão. Imaginava ainda aquele lugar cheio de meninos a correr, com o maior sorriso de alegria e outros mais pequenos a chorar caídos no chão, aqueles que cinco minutos depois estavam já a correr novamente. Imaginava os amores e desamores que ali se tinham encontrado e desencontrado, imaginava a chuva que tinha corroído por tantos Invernos aquele chão de alcatrão revestido de chicletes, imaginava o estalar desse mesmo alcatrão por tantos Verões de Sol quente, como aquele dia. Lembrava ainda também as pessoas que tinham dedicado a sua vida àquele lugar, a coser a roupa rasgada dos meninos e a levantá-los do chão quando caíam, lembrava o dono de tudo aquilo com a sua figura pesada e autoritária, lembrava as folhas que naquele chão haviam caído, lembrava aquele som tão aconchegante, lembrava as janelas que ali haviam sido partidas com bolas de futebol inocentes, lembrava as mesas velhas e as cadeiras pobres, lembrava os sorrisos, lembrava as lágrimas, imaginava, lembrava.
Abri então os olhos e vi, tudo o que eu lembrava eram agora somente recordações. O Sol era quente ainda, mas aquele lugar estava deserto. Estavam lá ainda as janelas e o chão de alcatrão corroído e estalado pelos Invernos e Verões, estavam lá as mesas velhas e as cadeiras pobres, mas estava deserto. Faltavam lá os sorrisos e as lágrimas, as pessoas que tinham dedicado toda a sua vida àquele lugar, o dono de tudo aquilo e a sua figura pesada e autoritária, faltavam lá os amores e desamores e as folhas caídas no chão. Então percebi que aquilo que toda a vida pensei ser a minha casa não o era. Aquele lugar não era o chão de alcatrão e as janelas, não era as mesas e as cadeiras, mas as pessoas, os sorrisos, e as lágrimas.

2 comentários:

Anabela Magalhães disse...

Mas que lindo texto! Que felicidade a de uma "tia" em ter uma sobrinha a escrever assim.

Raul Martins disse...

E as recordações que por vezes roçam a imaginação, são história das nossas vidas. Em todos os tempos e lugares o mais bonito são os sorrisos, as pessoas (sobretudo as pessoas) e as lágrimas, é verdade, também fazem parte da vida.
O teu texto é uma parábola da vida