Abri os olhos devagar, tinha agora todo o tempo do mundo. O céu estava azul e o sol brilhava lá em cima, sentia que tudo ao meu redor transbordava vida, tudo estava certo agora. Sentei-me na relva, estava quente e húmida como os meus pés mo havia dito, e era o mais confortável de todos os bancos. Olhei ao longe e tudo estava verde, todo o chão à minha volta era relva, quente e húmida e viva. Via-a como um lençol pintado de vários tons, todos eles verdes, uns mais escuros como um dia de tempestade, outros mais claros como aquele dia, mas todos numa harmonia maravilhosa, perfeita.
Apesar de tudo estava parada, e eu sabia, sabia mesmo que ia ali ficar para sempre. Era ali que haviam sido plantadas as suas sementes, e já nada agora a podia levar dali. Não percebi o que tinha feito eu, o que era eu a mais do que aquelas simples plantas, porque é que elas estavam ali presas e eu não, eu tinha a possibilidade de me levantar e ir onde quisesse, eu estava livre e elas tinham raízes, eu podia dançar e elas somente embalar-se ao vento.
Desviei o meu olhar da relva ao longe, e fixei-o na que estava perto de mim. E foi aí que vi uma formiga com alimentos às costas, um gafanhoto aos saltos, uma cigarra a cantar, um escaravelho a reluzir. Foi aí que eu vi que tudo o que é realmente necessário está bem perto, não é necessário procurar na relva ao longe. Toda a vida e toda a glória estava ali, ali mesmo por baixo dos meus pés. E foi aí que percebi também que aquelas plantas a quem a princípio chamei de presas, tinham uma liberdade muito maior que a minha. Foi aí que percebi que tudo o que eu precisava estava mesmo ao meu lado, e a liberdade há muito que a tinha.
P.S. I’ve Never Had Someone , As Good For Me As You , No One Like You .
So Lonely Before , I Finally Found What I’ve Been Looking For .
( P.P.S. A propósito do texto anterior , surgiram algumas confusões : Eu gosto de Matemática . )