terça-feira, 17 de novembro de 2009

Amor Combate

Cinco e meia da tarde em Novembro, a chuva não parava de cair e o frio não desistia de me abraçar. Desci as escadas e entrei pela porta de madeira encostada, lá dentro estava quente e a música ambiente tornava tudo muito mais acolhedor, sentei-me num dos sofás de veludo vermelho escuro por baixo de uma fotografia gigante a preto e branco que sempre me chamara a atenção, as paredes castanhas e amarelo torradas faziam com que o calor ali dentro se fizesse notar ainda mais e a chuva a bater nos vidros das janelas já não me incomodava. Pedi um café e acendi um cigarro, o calor começava agora a entrar-me nos ossos e o sobretudo preto tornou-se desnecessário: desapertei-o e encostei-o, abri o pacotinho de açúcar e despejei-o todo no café, que só mexi duas vezes e dei um gole rápido para me aquecer. Fechei os olhos e encostei a cabeça para trás, abanava-a para um lado e para o outro, ao som da música ambiente, o cheiro do meu café sabia-me bem, levei o cigarro aos lábios e puxei, senti o fumo descer dentro de mim e dançar com a música também, depois expirei-o devagar e o som começou a diminuir, a música a acabar. E, de repente, aqueles acordes. Não estava pronta para aquilo. O meu coração acelerou, Eu quero estar lá/ Quando tu tiveres de olhar pra trás, não abri os olhos, Sempre quero ouvir aquilo que guardaste pra dizer no fim, um arrepio percorreu-me a espinha e dentro de mim estava tudo à roda, Eu não te posso dar/ Aquilo que nunca tive de ti, não, eu não podia ter-te dado mais de mim, Mas não te vou negar/ A visita às ruínas que deixaste em mim, a música aumentava de volume, puxei com força o fumo do cigarro, Se o nosso amor é um combate, desta vez não o expirei e deixei que se entranhasse nos meus pulmões, Então que ganhe a melhor parte, aquele som dava cabo de mim, estava a torturar-me e eu não queria que acabasse, aquela voz e aqueles acordes que eu conhecia de cor, mais alto dentro de mim, não parava de repetir aquela frase que me atordoava, O chão que pisas sou eu/ O chão que pisas sou eu/ O chão que pisas sou eu/ O chão…, o chão que pisas sou mesmo eu, sinto-te a crescer dentro de mim, O chão que pisas sou eu/ O chão que pisas sou eu/ O chão que pisas sou eu, aquela voz não pára de me gritar o quão acabada eu estou, não pára de me tentar enterrar mais fundo, O nosso amor morreu/ Quem o matou fui eu, os meus olhos fechados deitam lágrimas, aperto-os com mais força mas ainda assim não as impeço de sair, consigo ver o teu cabelo louro e sentir a tua presença em cada acorde da música, O chão que pisas sou eu, a música fica mais forte, está tudo a andar à roda, ainda de olhos fechados levo outro gole de café à boca, fumo o meu cigarro como se todo o meu mundo dependesse disso, O Chão que pisas sou eu, a música dói-me, aquelas palavras doem-me, tu dois-me, respiro a última vez o cigarro e apago-o com força contra o cinzeiro, Se o nosso amor é um combate/ Se o nosso amor é um combate, abro os olhos de uma vez e a chuva lá fora ainda não parou, as minhas lágrimas acompanham-na e a música continua a gritar, Se o nosso amor é um combate, tu mataste-me, tu ganhaste, tu sempre foste a melhor parte.

Amor Combate - Linda Martini (clicar para ouvir)

1 comentário:

R. Branco disse...

Daqui nasceu um livro com dez personagens que à primeira vista não são o que parecem. Esta música é muito forte, não a devias ouvir com a tua idade, com o coração desse tamanho. Esta música é para o dia em que mundo acabar e o teu está longe disso...