terça-feira, 16 de março de 2010

Há caminhos que não nos levam a lugar algum.

(02.54 am) É o relógio. É sempre o relógio. Sintonizei-o na função de minuto e eliminei a de segundo. Já não era suportável vê-lo andar mais rápido que os meus batimentos cardíacos.
(03.12 am) Passaram dezoito minutos desde a ultima vez que me levantei para olhar para ele. Parece que passou toda uma vida.
(03.38 am) Está escuro e eu vejo-te a ti. Está escuro e os meus olhos têm a luz que lhes trazes sei lá bem de onde, sei lá bem como. Não quero luz, quero dormir. Deixa-me!, deixa-me dormir, deixa-me fechar os olhos para sempre e não te ver nunca mais.
(03.54 am) O mundo é frio e tenho medo sem ti aqui. O mundo é grande demais, apenas.
(...)
(05.27 am) Já não sei o que fazer, és tudo tu. Não sobra nada de mim.
(05.48 am) Já dei tantas voltas na cama como os ponteiros no relógio. E ainda é o relógio. É sempre o relógio. Ouço o ponteiro a avançar a cada minuto, e a cada intervalo de silêncio dói-me o coração por ter de esperar tanto tempo ainda, por não haver fim naquela contagem.
(06.17 am) O sol deve estar a querer furar o céu lá fora. Aposto que sim. Ele sempre teve mais força do que eu. O barulho do ponteiro está a deixar-me louca. Levanto-me e atiro-o contra a parede, o vidro parte, os ponteiros dividem-se e o tempo acaba. Enredos violentos implicam violentos fins.

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