quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

MmmmMMmmmMMmm.

Há um dia assim para todas as pessoas como eu: de repente, o mundo pára – perdemos o controlo sobre o nosso corpo e os nossos olhos desfazem-se, o nosso peito grita e toda a vida morre em nós. Há um dia assim para todas as pessoas como eu: o dia em que entendemos que estamos tão agarrados a uma coisa que não a podemos mais largar.Todas as noites esvazio o coração, mas quando o céu acorda, de manhã, volta a encher-se: quando a desfalecida luz do sol chega até aos meus olhos desidratados percebo que é um novo dia e que tu voltaste como nunca deixaste de fazer - estou a transbordar de ti, por cada poro, a cada gesto, a cada batimento cardíaco e a cada bafo de oxigénio que levo aos pulmões para impedir que tudo acabe naquele instante. Eu estou doente apenas, as músicas que eu ouço já nem falam de ti e tu já nem estás nos olhos da multidão com que lamentavelmente cruzo os olhos na rua – tu és a música e a multidão, tu vives de dia e de noite a cada exalar meu e cada mancha de tinta minha és tu, cada voz ao meu ouvido és tu, cada cabelo louro que se arraste a quilómetros de mim és tu, cada língua estrategicamente guardada entre os meus dentes é a tua e já nada resta de mim: tu nem sequer me levaste, ocupaste o meu lugar e desapareceste para sempre com a minha vida em ti. Eu perdi-me há muito tempo, desaprendi o mundo e as pessoas e esqueci-me de respirar, esqueci-me de aprisionar vida dentro de mim porque da última vez que tombaste a cabeça para mim e me completaste naquela fracção de segundo imperceptível ao mundo eu dei-te tudo e fiquei sem nada: morri dentro de ti, nas tuas mãos, na tua boca e no teu peito e valeu por todos os dias de existência que queimei desde então. O tempo passa, o relógio congela e descongela conforme lhe apetece e já não me desacomoda nem desassossega: chega o dia em que percebemos que estamos tão agarrados a uma coisa que não a podemos mais largar – chega o dia em que percebemos que o tempo parou e que nunca mais deixaremos de procurar pelo mesmo perfume, pelo mesmo sorriso, pelo mesmo hipotético e desejável sussurro deixado para trás.

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