sábado, 12 de dezembro de 2009

A chamada caiu.

Ainda que fosse apenas um reflexo da realidade, ainda que fosse apenas uma reprodução imperfeita e irreal aquilo que ali me chegava aos ouvidos pelos fios eléctricos que faziam a ligação entre o teu telefone e o meu, ainda que não fosse sequer palpável, foi o mais perto que pude estar de ti e do teu corpo, foi o mais verdadeiro e o mais real que tive de ti em tanto tempo. Era a tua voz, a tua e a de mais ninguém, era a tua respiração coordenada e certa, os teus pulmões a encher e a esvaziar do outro lado da linha e todo esse combinar de sons perfeitos a chegarem-me aos ouvidos, só a mim, como se fosses só tu e eu outra vez, tu a entrares dentro de mim outra vez ainda que não o soubesses sequer. A distância que estava agora unida por aquela ligação telefónica deixara de existir ainda que tudo não passasse de um reflexo teu, eu não queria nunca mais pousar o telefone porque se isso acontecesse era o fim de tudo, o relógio ia recomeçar a andar e o meu coração a bater e a doer, - Quem é? – foi o que me chegou de ti em tanto tempo, apenas isto, eu repetia a expressão na minha cabeça uma e outra vez, tentava encontrar uma resposta, o meu cérebro a atrofiar e as minhas mãos a tremer, - Quem é? – eu queria realmente ter uma resposta para ti, ouvia a tua respiração certa do outro lado a pressionar-me com todas as forças, a desfazer-me e a matar a minha alma, suspiraste e a chamada caiu, o telefone caiu, as minhas lágrimas caíram, - Quem é?, eu não sei quem sou, como podia ter uma resposta para ti?

1 comentário:

R. Branco disse...

Tu sabes bem quem és. És a dona das coisas do Mundo belo! E ninguém te pode tirar isso!