terça-feira, 25 de agosto de 2009

Posição Vertical

Há muito tempo alguém me disse que as pessoas não mudam. Não. As pessoas não mudam. Mas em mil quatrocentas e quarenta horas podem transformar-se. Crescer. Verticalizar-se.
E era ver-me magicar a vida feita de planos, de traços em mapas e de linhas rectas, até que se passassem mil quatrocentas e quarenta horas e todos os meus caminhos imaginários se cruzassem e se confundissem, se perdessem e me fizessem – consequentemente – encontrar.
Havia tempos em que me era estranho achar que o Homem era um ser individual e independente e ao mesmo tempo o maior fascínio que nele via serem as suas relações. Mas como dizia Pessoa, primeiro estranha-se e depois entranha-se: a individualidade do Homem é física – dormimos, sentimos e respiramos sozinhos; as relações são emocionais – aprendemos a verticalidade com pessoas mais altas do que nós. E é assim. Não há porquês; só boas sensações.
Mil quatrocentas e quarenta horas é um espaço de tempo que dói: é longo, demorado, e íngreme. Vale a pena.
Havia tempos em que me era estranho ouvir que melhores eram os momentos em que não eram precisas palavras. Mas como dizia Pessoa, primeiro estranha-se e depois entranha-se: a palavra pesa e enche. Há alturas em que é desnecessária.
E era ver-me magicar um plano objectivo, bem desenhado e organizado, até que se passassem mil quatrocentas e quarenta horas e todo o meu trabalho se rasgasse, e – consequentemente – me consertasse.
Mil quatrocentas e quarenta horas é um espaço de tempo duro: não muda pessoas, mas transforma-as, abre-lhes os corações, fá-las crescer e, quando transporta consigo pessoas com grandes almas, consegue a heróica proeza de eliminar as vertigens provocadas pela Posição Vertical.

OBS.
A Fátima Vale, a Ricardo Molar e a Rui Branco.
Aos meus irmãos de carne.
À Casa da Cultura e da Juventude de Amarante.

2 comentários:

R. Branco disse...

Quero estar lá a ajudar-te a ver as estrelas, a tentar-te a agarra-las, quero deixar-te vertical e do tamanho das pessoas mais altas que nós. Não importa o tempo ou as horas, o tempo não se pode medir: tu não tens quinze anos ou eu dezassete, temos a idade do tamanho da experiência e o Amor faz-nos crescer, ser maiores e voar onde possamos tocar as estrelas. Nós somos verticais, ainda que tenhamos vertigens por vezes. Um dia vais entender. Um dia eu entendi.

Anabela Magalhães disse...

Estais no caminho certo.
Fico contente.