Margem Do ( De Um ) Rio

O seu cabelo loiro e os olhos verde-mar reluziam ainda mais naquela noite de Setembro. Francisco tinha dezasseis anos e a vontade de viver fora levada do seu mundo há muito tempo, o céu azul e os dias de Verão haviam sido levados igualmente e deixado somente o cinzento, e algures, também perdida e desorientada, ficara esquecida a última ponta de cor do seu mundo, o último raio de luz dos seus dias. Joana.
Apesar de ser Setembro o céu estava limpo, as estrelas brilhavam lá em cima e a luz da lua reflectia-se nas águas calmas do rio que corria em frente aos seus olhos. Acendeu um cigarro do jeito desajeitado habitual, e ofereceu a sua atenção às águas calmas do rio em frente aos seus olhos. As árvores à volta eram avós da sua infância a correr nas margens daquele rio, e eram suas confidentes também naquelas horas de cinza e vazio. Sempre fora um bom amigo, as suas doces palavras sempre aconchegaram os pensamentos de culpa de Joana, os seus braços sempre a abraçaram quando os seus olhos choravam rios e afogavam o seu mundo pintado de todas as cores, e depois, sempre recebera em troca o egoísmo e desinteresse dos cabelos longos cor de mel que lhe assombravam os últimos dias, vazios de vontade de viver.O fumo do cigarro perfurava-lhe os pulmões e aquecia-lhe a alma, o cheiro do rio lembrava-lhe as suas corridas de mão dada à réstia de luz no seu mundo, há tanto tempo atrás.
O seu cabelo doirado possuía as madeixas desorientadas e os seus olhos verde-mar largaram uma gota salgada, que lhe escorreu pelo rosto e no fim, se evaporou. Como essa lágrima também a sua réstia de luz morrera ali. Não havia mais espaço para dor no seu corpo, mas as lágrimas da sua alma jamais condensariam. Voltou os olhos para o céu estrelado de Setembro, ainda húmidos de um cabelo longo e cor de mel, e soube ali que nenhuma das suas doces palavras havia sido em vão, soube ali que se estivesse ao seu alcance, Joana teria feito um contracto com Deus, teria invertido os lugares.