terça-feira, 3 de junho de 2008

Puro Pela Primeira Vez.

Os meus passos tornavam-se mais leves à medida que avançava e reflectia. Ainda via os teus lábios pronunciar tais perfeitas palavras, ainda as ouvia, a elas e ao timbre da tua voz naquele momento. Ouvia também o meu coração apesar da calma com que batia, sentia o ar entrar-me nos pulmões, nas veias e nas artérias agora tão puras, tão vazias de ti. Olhei ao meu redor, como se visse o mundo pela primeira vez. O mundo era belo, o mundo era estranho, o mundo era colorido e misterioso. Isto era verde, isto amarelo e aquilo azul, em cima da minha cabeça, agora também ela vazia de ti, corria o céu e ao longe o rio, erguiam-se as montanhas e as árvores, tudo belo, tudo enigmático, tudo tão puro pela primeira vez.
Já não era agora a multiplicidade absurda e acidental do mundo das aparências, do mundo que me mostravas e das palavras que proferias, bonita e aconchegante para o meu novo ser. Agora estava tudo certo apesar de eu desconhecer o mundo, agora tudo era bonito e eu já não desprezava os outros, agora o rio era rio e o verde era verde pela primeira vez.
Lembro-me de ver os outros que se preocupavam em entender e determinar o sentido das coisas, lembro-me de os desprezar também ao teu lado. Como eu estava enganada, estava tudo à frente dos meus olhos, eles não desprezavam os sinais e as letras, não lhes chamavam engano nem acaso. Liam, estudavam e amavam, frase por frase, palavra por palavra, letra por letra. Mas eu, eu que queria ler o livro do meu próprio ser e ser feliz contigo ao meu lado, desprezei as letras e os sinais devido à ilusão que o teu perfume e a tua voz me causavam, chamei engano ao mundo que era o certo, chamei casual e inútil à minha língua e aos meus olhos.
Isso é passado. Na verdade eu despertei, hoje vi que o verde é verde e o rio é rio pela primeira vez.

2 comentários:

R. Branco disse...

And If You Want to Be By Yourself
No One Disturbing, That's Alright
I Guess I'll Have to Borrow
A Little of Yourself Tonight

Preciso de ti <3

Mαriα Moitα disse...

"Mas eu, eu que queria ler o livro do meu próprio ser e ser feliz contigo ao meu lado, desprezei as letras e os sinais devido à ilusão que o teu perfume e a tua voz me causavam, chamei engano ao mundo que era o certo, chamei casual e inútil à minha língua e aos meus olhos."
Frase perfeita.
Gosto mesmo dos teus textos.
:)