domingo, 28 de junho de 2009

Folha de papel

É estranho olhar para esta folha de papel branca e saber que posso fazer dela o que quiser. É impensável, quase irreal, as voltas que aqui posso dar e tudo o que dela pode nascer: basta eu querer. Mas no fim acabo sempre por me perder neste branco infinito, acabo sempre por desprezar as palavras que despertam no calor acolhedor desta folha de papel, e a história fica sempre por aqui – elas nunca me chegam, nunca satisfazem por completo o rumo que, havia um dia, eu sonhava dar a folhas de papel como esta onde agora me encontro perdida. E é ver-me fugir-lhe, não sei como ainda tenho medo de as deixar desenrolarem-se por aqui adiante, não sei como ainda tenho cautela em cada curva, em cada letra. Mas é assim, este branco infinito dá-me medo e prende-me os movimentos e o coração, e por muito que eu tente encontrar-lhe um significado, nada se repete, nada se promete: tudo é fugaz e tudo é breve.
É estranho olhar para esta folha de papel e saber que posso fazer dela o que quiser, e no entanto, por mais profundamente que eu entre e procure neste branco infinito, nada me move, nada reacende o furacão sob qual um dia tive total controlo. Talvez um dia eu possa voltar a descansar, talvez um dia os meus olhos se desliguem do branco infinito desta folha de papel e se voltem para dentro, e talvez aí eu veja que não é assim tão difícil. Como tudo o resto: basta eu querer.